quinta-feira, novembro 30, 2006

A COISA MAIS INJUSTA NA VIDA...

"A coisa mais injusta na vida é a maneira como ela acaba.
A nossa existência deveria justamente começar pela morte.
Os primeiros anos seriam passados num lar de terceira idade, até sermos expulsos por sermos novos de mais. Alguém nos oferecia um relógio de ouro e iamos pegar no trabalho durante quarenta anos, até sermos suficientemente novos para nos reformarmos.
Então desatávamos a experimentar drogas leves, álcool e muito sexo até ficarmos miúdos. Nessa altura poderíamos começar a brincar todo o dia e a gozar o facto de não termos qualquer responsabilidade.
Finalmente, chegados a bebés, voltávamos para o conforto da barriga da mãe, gozávamos um magnífico banho de imersão durante nove meses e acabávamos com um orgasmo!!!!!!!!"

PS 1 : o que me consola, amigos e amigas, é a teoria da reencarnação!!! NAMASTE!

PS 2: NAMASTE- é uma saudação hindu, de origem sânscrita, que corresponde ao nosso olá. Ela possui uma força pacificadora muito intensa. Inclinar-se juntando as mãos significa:
"O Deus em mim saúda o Deus em você."
"O Espírito em mim reconhece o mesmo Espírito em você."
DENTRO E FORA
"O Livro das Fábulas" de Hermann Hesse, Civilização Brasileira, 1977.

Era uma vez um homem chamado Friedrich, devotado às coisas do espírito e de
vastos conhecimentos. Gostava, porém, de concentrar todo o seu saber num
modo particular de pensar e menosprezava todos os demais. Tinha na mais alta
estima a Lógica, essa tão magnífica disciplina, e os conhecimentos a que
dava o nome geral de Ciência.

"Duas vezes dois são quatro" - costumava ele dizer. -"nisso que eu acredito
e é partindo dessa verdade que um homem deve usar o raciocínio".

Não ignorava, é claro, que existiam muitas outras maneiras de pensar e
interpretar as coisas, mas não as considerava "ciência" e, portanto, não
lhes dava importância. Conquanto fosse um livre-pensador, não era
intolerante no que dizia respeito á religião. Nisso comportava-se de acordo
com a atitude de tácita anuência dos cientistas. Há muitos séculos a Ciência
ocupava-se de tudo o que existia no mundo, e estimulava o desejo de
investigar e saber, com exceção de um único objeto: a alma humana. Deixava-a
a cargo da religião e não tomava a sério as especulações que ela fazia sobre
a alma mas, enfim, tolerava-as porque, com o decorrer dos séculos, tinham-se
con¬vertido num hábito. Assim, no tocante à religião, Friedrich mantinha uma
atitude tolerante mas o que profundamente lhe repugnava e enfurecia era tudo
o que envolvesse e fosse reconhecido como superstição. Somente admitia o
pensamento místico e as explicações mágicas entre povos ignorantes e
atrasados quer de uma antigüidade remota; quer da atualidade primitiva e
inculta de certas regiões exóticas. Desde que existia uma Lógica e uma
Ciência, deixara de fazer sentido recorrer a esses recursos obsoletos e
duvidosos.

Assim pensava e assim argumentava Friedrich. Quando ao seu redor se
manifestavam indícios de superstição, irritava-se e era como se tivesse sido
tocado por algo hostil e pernicioso.

O que mais o aborrecia era encontrar tais indícios entre seus iguais, homens
cultos que estavam tão familiarizados quanto ele com os princípios do
raciocínio científico. E nada lhe era mais doloroso e insuportável do que
ouvir certas idéias blasfemas como a que escutara, recentemente, de um homem
de elevada cultura, que afirmara esta coisa absurda: - o raciocínio
científico não é, provavelmente, a mais elevada, rigorosa e intemporal forma
de pensamento mas, pelo contrário, a mais transitória, vulnerável e
perecível entre todas as formas de pensar! - Essa irreverente e perniciosa
opinião tinha seus adeptos, isso não podia Friedrich negar, mas era um
reflexo da miséria gerada pelas guerras, pela subversão e pela fome que
assolavam o mundo, e surgira como uma advertência, uma desculpa e um aviso
fantasmagórico escrito sobre a parede branca.

Quanto mais Friedrich sofria com a existência dessa nefasta idéia, mais
veementemente hostilizava os que a propagavam ou aqueles que supunha
esposarem-na secretamente. Na verdade, só alguns raros homens de erudição
tinham franca e abertamente confessado sua concordância com a nova corrente
de pensamento que, se lograsse expandir-se e triunfar, destruiria
provavelmente os alicerces da cultura e provocaria o caos no mundo.

Ora, até esse momento, ainda não se chegara a tal ponto e os cientistas que
tinham defendido abertamente a nova idéia eram tão poucos que podiam
perfeitamente passar por indivíduos excêntricos ou fanáticos. Porém, uma
pequena gota do veneno, uma tênue irradiação desse pensamento, já era
per¬ceptível aqui e ali. Nas camadas do povo e entre as pessoas semicultas
já se notava o florescimento de uma série de seitas, de escolas, de
correntes com seus mestres e discípulos, pregando ensinamentos em que a
Lógica e a Ciência não tinham vez. O mundo começava de novo se enchendo de
superstições, artes ocultas, magia negra, misticismo, necromância e outras
manifestações que o racionalismo quase extinguira e que era urgente combater
de novo. Mas a Ciência, talvez em virtude de um sentimento de íntima
fraqueza e de mal compreendida tolerância, silenciava.

Um dia, Friedrich foi visitar um de seus amigos, com quem já realizara
diversos estudos. Há muito tempo que não se viam e, enquanto subia as
escadas, procurou lembrar-se de quando estivera pela última vez na casa
desse amigo. Embora pudesse gabar-se, habitualmente, de uma excelente
memória, desta vez não conseguia recordar esse pormenor. Insensivelmente,
deixou-se possuir de uma certa irritação e desapontamento, ao bater à
porta.

Quando saudou o amigo Erwin, Friedrich notou logo na fisionomia jovial que
lhe retribuía o cumprimento um certo sorriso de afabilidade comedida que não
lhe parecia ter visto nunca nos tempos de quase diária convivência mútua.
Friedrich pressentiu imediatamente que, por detrás desse sorriso, havia
algo de irônico ou hostil e, no mesmo instante, lembrou-se daquilo que ainda
há pouco estivera inutilmente vasculhando na memória: o seu último encontro
com Erwin. Sim, lembrava-se muito bem que, embora não tivessem discutido,
separara-se dele com surda irritação, porquanto lhe parecia que Erwin não o
apoiava como devia, nessa época, nos ataques que vinha desencadeando contra
o pensamento místico e supersticioso. E também já se lembrava por que motivo
não voltara a procurar Erwin durante largo tempo. Era estranho como poderia
ter esquecido tudo isso! Na verdade, evitara o convívio do amigo unicamente
por causa dessa divergência, fato que ele sabia o tempo todo, muito embora
arranjasse sempre outros motivos para protelar uma nova visita a Erwin.

Eis que estavam agora frente a frente e parecia a Friedrich que a pequena
brecha de outrora se ampliara de um modo assustador. Em seu íntimo, sentia
que entre ele e Erwin faltava agora algo que sempre existira, aquela
atmosfera de sólida cooperação, de imediata compreensão e, até, de mútua
simpatia resultante de inclinações e propósitos comuns. Em vez disso,
Friedrich encontrou na sua frente uma expressão de estranheza, como se
através do próprio sorriso de Erwin pudesse espreitar para o vazio que havia
lá dentro. Cumprimentaram-se, falaram do tempo, que era feito de fulano e
cicrano, como iam de saúde... e Deus sabe como, a cada palavra proferida,
Friedrich via aumentar a sensação angus¬tiante de incompreensão recíproca,
de estarem falando como dois desconhecidos perfeitamente alheados aos
problemas um do outro e não encontrarem um motivo que os conduzisse a uma
boa e agradável conversa. Erwin continuava com seu comedido sorriso afável,
que Friedrich já começava a odiar.

Numa pausa do penoso diálogo que se arrastava havia alguns minutos,
Friedrich viu na parede do tão conhecido gabinete de estudo de Erwin, uma
folhinha de papel presa por um alfinete. Essa imagem tocou-o fortemente,
despertando velhas lembranças: recordou que, durante os anos de estudante,
Erwin tinha o costume de conservar assim, diante dos olhos, uma sentença de
algum pensador ou os versos de algum poeta. Levantou-se e foi ler a folhinha
na parede.

Nela estava escrito, com a disciplinada caligrafia do colega, a seguinte
frase: "Nada está fora, nada está dentro. Pois o que está fora, está
dentro".

Friedrich empalideceu e manteve-se imóvel por instantes. Aí estava! Aí
estava o que ele tanto temia! Em outra época, talvez tolerasse aquilo,
talvez encarasse aquela frase com indul¬gência, como uma inofensiva e, em
última análise, compreen¬sível manifestação de sentimentalismo, digna de ser
estudada. Mas agora era diferente. Tinha a certeza de que aquelas palavras
não tinham sido anotadas por causa de uma fugaz disposição poética nem por
um capricho que fizera Erwin retomar, após tantos anos, um hábito da
juventude. O que ali estava escrito, naquela parede, era uma confissão do
que ocupava atualmente o espírito do amigo: era uma prova de misticismo.
Erwin era mais um renegado.

A passos lentos, dirigiu-se ao amigo, cujo sorriso resplandecia de novo.

- Explica-me aquilo - intimou Friedrich.

- Não conhecias essa sentença? indagou Erwin, amavelmente, erguendo a
cabeça.

- Sim, claro que conheço! ~ uma sentença mística, puro gnosticismo! Talvez
tenha alguma poesia, não discuto. Mas o que eu desejo que me expliques é por
que a tens pendurada na parede.

- Com todo o prazer - replicou Erwin. - Essa sentença é uma espécie de
introdução à nova epistemologia, a cujo estudo me dedico atualmente e à qual
devo algumas felizes realizações.

Friedrich mal podia esconder seu desgosto.

- Dizes que é então uma nova ciência do conhecimento? E acaso isso existe?
Que nome tem?

- Oh, na verdade, só é nova para mim. De um ponto de vista histórico, é uma
ciência bem antiga e respeitável, embora a conhecessem sob outro nome:
Magia.

A negregada palavra! Eis que ela fora pronunciada! Friedrich, profundamente
surpreendido, quase assustado, diante de uma confissão tão clara, via-se
frente a frente com seu inimigo supremo, na pessoa do amigo. Sentiu arrepios
e permaneceu calado. Não sabia se estava mais próximo da cólera ou se da
compaixão e das lágrimas. De qualquer modo, foi assaltado por uma terrível
sensação de perda irremediável. A amargura não o deixava encontrar palavras.
Depois, com uma ironia forçada na voz, indagou:

- Abandonaste, então, a carreira de cientista para te tornares um... um
feiticeiro, é isso?

- Exatamente - retorquiu Erwin sem hesitai..

- Aprendiz de feiticeiro, eh?

- Correto.

Friedrich calou-se de novo, literalmente perplexo. Ouvia-se o tique-taque de
um relógio no quarto vizinho, tal o silêncio que reinava no gabinete.

- Sabes que, com isso, deixaste de ter qualquer coisa em comum com a
Ciência, que essa tua epistemologia não tem nenhuma relação com a verdadeira
teoria do conhecimento, enfim, que nenhuma seriedade pode haver num estudo
que se baseia em falsas premissas? E também deves saber, sem dúvida, que não
pode haver qualquer relação entre nós dois?

- Eu esperava que sim - respondeu Erwin. - Mas se colocas as coisas nesse
plano... que posso eu fazer?

- O que podes fazer? - interrompeu Friedrich, quase gri¬tando. - Não sabes o
que podes fazer? Acabar com essa brincadeira de mau gosto, com essa triste
crença em artes sobrenaturais, indigna de um homem de saber! Romper
completamente e para sempre com tudo isso! É tudo o que te resta a fazer,
se acaso queres conservar a minha amizade e o meu respeito.

Erwin sorria, embora já não parecesse tão jovial quanto antes.

- Falas assim - disse ele em tom baixo, de maneira que a voz irritada de
Friedrich ainda parecia ressoar no gabinete - falas assim como se tudo
dependesse da minha vontade, como se estivesse em meu arbítrio escolher um
ou outro rumo, Friedrich. Mas não e assim. Não me compete optar. Não fui eu
que escolhi a magia. Foi ela que me escolheu. Friedrich soltou um profundo
suspiro.

- Então passa bem. - E levantou-se, sem estender a mão ao amigo.

- Assim não! - exclamou Erwin, agora mais agitado. - Não, assim não quero
que me deixes. Imagina que um de nós estivesse moribundo. Seria assim...
seria desta maneira que nos despediríamos?

- Qual de nós, Erwin, é o moribundo?

- Creio ser eu, Friedrich. Quem quer renascer deve estar disposto a morrer
primeiro.

Friedrich acercou-se novamente da folhinha na parede e releu a sentença
sobre o que está dentro e fora.

- Bom - disse ele, por fim. - Tens razão, nada adianta separarmo-nos
zangados. Seja como tu dizes e vamos supor que um de nós está moribundo. Eu
também poderia ser o moribundo. Porém, antes de partir, quero fazer-te um
pedido.

- Isso me agrada ouvir - disse Erwin. - Que poderei fazer por ti, como
despedida?

- Vou repetir a minha pergunta inicial, que foi ao mesmo tempo uma
intimação: explica-me essa sentença e trata de fazê¬-lo o melhor que
possas - disse Friedrich, apontando para a folhinha.

Erwin refletiu por momentos e disse:

- Nada está fora, nada está dentro. O significado teológico tu o conheces
tão bem quanto eu. Deus está em toda a parte. Ele está nos espíritos e na
natureza. Tudo é divino porque Deus está em tudo e para Ele não existe fora
nem dentro. Está identificado com todas as coisas. A isso chama¬vam outrora
Panteísmo. Vamos agora ao conceito filosófico: a separação de dentro e fora
é um hábito mental mas não é forçosamente necessária. Existe para o nosso
espírito a possibilidade de transcender as fronteiras que lhe foram
traçadas e atingir o Além. E é para além dos limites do nosso mundo e da sua
estrutura de pares opostos e antagônicos, como o Bem e o Mal, o Belo e o
Feio e tantos outros, que se abrem novos e diversos conhecimentos. Ah, meu
caro amigo, devo te confessar: desde que se operou essa mudança em meu
pen¬samento, nunca mais houve para mim palavras e frases, enunciados e
sentenças de um só sentido, senão que cada palavra, cada frase, passou a
revestir-se de dezenas, centenas de significados. E é nesse ponto que
começa aquilo que tu mais temes e detestas: a Magia.

Friedrich franziu o cenho e quis interrompê-lo mas Erwin olhou-o,
tranquilizador, e prosseguiu:

- Permiti-me que te dê um exemplo. Leva daqui uma coisa que me pertence,
algum objeto e, de vez em quando, observa-o. Verificarás que, ao
contemplá-lo, o objeto em si, com suas características próprias e limitadas,
suscitará no teu Intimo muitos outros significados, por exemplo, a nossa
antiga amizade, este encontro e uma infinidade de outros pensamentos que
nada têm a ver com esse insignificante objeto.

Erwin olhou ao seu redor, levantou-se e retirou de uma prateleira uma
estatueta de porcelana vidrada, entregando-a a Friedrich. E então disse:

- Aceita isto como presente de despedida. Quando este objeto, que ora
entrego em tuas mãos, estiver dentro e fora de ti, volta a visitar-me.
Porém, se continuar sempre fora de ti, como está agora, isso significará que
a nossa despedida de hoje foi para sempre!

Friedrich ainda tentou dizer alguma coisa mas Erwin já lhe estendia a mão,
apertando-a e dizendo "adeus" com uma expressão que não dava lugar a mais
palavras.

Friedrich desceu a escada (há quanto tempo subira ele aquela escada?),
caminhou vagarosamente rumo a casa, a pequena estatueta apertada na mão,
perplexo e, muito no seu íntimo, desolado. Parou diante da porta, sacudiu
por instantes o punho onde se encontrava a estatueta e, irritado, sentiu
vontade de espatifar no chão aquela coisa ridícula. Não o fez e, mordendo
os lábios, entrou em casa. Nunca se sentira tão conturbado, tão atormentado
por sentimentos contraditórios.

Procurou um lugar onde pôr a estatueta do amigo e colocou-a na última
prateleira de uma estante de livros. Ali ficaria por enquanto.

Durante o dia, Friedrich olhava uma vez ou outra para a estatueta, meditando
sobre sua procedência e sobre o significado que tão inofensivo objeto
poderia ter em sua vida. Era uma pequena imagem humana, de um deus ou ídolo
antigo, não muito humana, de fato, pois tinha dois rostos, como o deus
romano Janus, Era de porcelana grosseira e muito mal-acabada. O seu vidrado
tinha rachado, talvez por excesso de calor. Certamente não era um trabalho
saído das mãos dos artífices gregos ou romanos. Mais parecia ter sido
moldada por algum povo primitivo da África ou das ilhas do Pacífico. Sobre
as duas faces, que eram réplica uma da outra, esboçava-se um sorriso
apático, inerte e descorado: era até chocante como o pequeno duende podia
desperdiçar seu tempo com um sorriso tão tolo.

Friedrich não conseguia habituar-se àquela imagem. Era-lhe inteiramente
repugnante, desagradável, embaraçava-o, incomodava-o. Tirou-a da estante e
colocou-a sobre a estufa. Dias depois, retirou-a da estufa e levou-a para o
armário. Mas a estatueta de duas caras constantemente lhe surgia diante dos
olhos, sorrindo-lhe fria e estupidamente, impunha-se-lhe à vista, exigia
atenção. Duas ou três semanas depois, Friedrich retirou-a de seu gabinete e
colocou-a na ante-sala, entre algumas fotos da Itália e diversas recordações
que de lá trouxera, mas tão insignificantes que ninguém olhava para elas.
Agora, pelo menos, Friedrich só veria o ídolo primitivo nos momentos em que
saía ou entrava em casa, passando rapidamente por ele e sem sequer o olhar
de perto. Mas a verdade é que, mesmo sem querer admiti-lo, a estatueta
também ali o incomodava.

Como esse mostrengo de duas caras, esse pedaço de barro mal-acabado, tinha
penetrado em sua vida e o atormentava!

Meses depois, Friedrich regressou de uma curta viagem - de vez em quando,
empreendia essas excursões como se algo o impelisse a fazê-lo, movido por
uma súbita intranqüilidade entrou em casa, passou pela ante-sala, foi
saudado pela sua governanta e leu a correspondência que o aguardava. Estava,
porém, inquieto e distraído, como se tivesse esquecido algo importante;
nenhum livro lhe apetecia ler, em nenhuma cadeira se sentia confortável.
Decidiu examinar seus próprios sentimentos: o que lhe estava acontecendo, de
repente? Teria esquecido alguma coisa importante? Sofrera algum
contra-tempo? Comera algo prejudicial? Tentava lembrar-se. Refle¬tia e
procurava concluir se essa incômoda sensação o acometera antes de entrar em
casa, ou depois, na ante-sala, ou... Teve um brusco sobressalto e correu
para a ante-sala, procurando instintivamente com o olhar a estatueta de
porcelana.

Uma estranha sensação lhe percorreu o corpo quando não viu em seu lugar o
ídolo de duas caras. Como poderia ter desaparecido? Teria fugido em suas
pequenas pernas de barro? Voado? Algum estranho feitiço o chamara para as
longínquas paragens donde viera?

Friedrich reagiu, sacudindo a cabeça e repreendendo-se, sorridente, pelo
despropósito de sua angústia. Deveria, em primeiro lugar, descobrir a
estatueta em algum outro ponto, procurando-a calmamente na casa. Talvez,
distraído, a tivesse mudado de lugar. Depois, não a encontrando, chamou a
governanta. Embaraçada, confessou que aquela estatueta lhe escorregara das
mãos, quando arrumava a ante-sala.

- E onde está?

- Não existe mais. Tive-a várias vezes na mão, parecia-me uma coisa tão
forte e resistente. Mas ao cair desfez-se em mil pedaços. Ficou
irrecuperável, doutor. Joguei-a no lixo.

Friedrich mandou a governanta retirar-se. Sorriu. Não ficara contrariado.
Por Deus, que não sentia pena alguma pela perda do feio manipanso. Estava
livre dele. Agora teria sos¬sego. Era o que deveria ter feito logo no
primeiro dia: espatifado aquela coisa em mil pedaços! Agora se apercebia do
que sofrera todo esse tempo! Como o ídolo lhe sorria com sua dupla cara
indolente, maliciosa, velhaca, diabólica! Já que a estatueta não mais
existia, podia confessar: sim, ele temia, sinceramente temia aquele pedaço
de barro cozido. Não era, afinal, um símbolo de tudo o que para Friedrich
era hostil e insuportável, tudo o que ele tinha na conta de pernicioso,
degradante e a ser implacavelmente combatido superstição, obscurantismo,
forças inimigas da clareza de consciência e de espírito? Não representava
aquela brutal força telúrica, aquele distante terremoto que ameaçava, por
vezes, destruir a verdadeira cultura sob um caos de trevas? Aquela mísera
imagem não lhe roubara o seu melhor amigo - não só o roubara como o
convertera em adversário? Bom, a coisa tinha desaparecido. Quebrada. Morta.
Era bom assim, muito melhor do que se ele próprio a tivesse quebrado.

Friedrich continuou dedicado a seus estudos e tarefas.

Mas parecia uma maldição. Agora, quando já se habituara mais ou menos à
presença da ridícula estatueta e a vê-la no seu lugar da ante-sala; quando,
com o decorrer do tempo, já se lhe tornara familiar e indiferente...
começava a sentir sua falta! Sim, sentia falta dela. Toda a vez que passava
pela ante-sala e via o lugar vazio que a estatueta costumava ocupar, uma
estranha angústia se apossava de Friedrich. O vazio ampliava-se em toda a
ante-sala, penetrava no seu gabinete de estudo, nos quartos, um vazio
estranho e cruel por toda a casa, como a súbita ausência fria de um parente
muito querido.

Dias horríveis e piores noites vieram torturar Friedrich. A falta do ídolo
de duas caras obcecava-o e dominava seus pensamentos. Já não era apenas
quando passava pela ante-sala e via o lugar vazio, oh não, Fiedrich
sentia-se impelido a pensar nele a qualquer momento, desalojando de seu
espírito tudo o mais. Era como se a própria estatueta tivesse fisicamente se
instalado em sua mente e, de modo implacável, fosse roendo, devorando. tudo
o mais que lá dentro encontrara, gerando em seu íntimo um vazio semelhante
ao que criara no resto da casa.

Como se quisesse convencer-se do absurdo que era lamentar a perda do
insignificante objeto, recordava-o mentalmente em todos os seus pormenores.
Revia-o em toda sua tosca fealdade, com seu sorriso velhaco e... sim,
chegava mesmo a tentar, com a boca torcida, imitar aquele sorriso!
Assediava-o a pergunta: as duas caras seriam realmente iguais? Uma delas,
talvez a causa de uma pequena rachadura no vidrado, não teria uma expressão
ligeiramente diferente da outra? Uma expressão algo interrogativa? Como o
sorriso da Esfinge? Ah, e como era pavorosa a cor da pintura! Era verde...
não, também tinha azul. Ou era cinza? Tinha a certeza de que também havia
um pouco de vermelho. Era um vidrado que Friedrich encontrava agora em
muitos outros objetos: via-o no faiscar de um raio de sol, batendo na
vidraça de uma janela, nos reflexos da chuva que batia nas pedras da
calçada...

Sobre o vidrado da estatueta também pensara muito durante a noite. Dava-se
conta de que "vidrado" era uma palavra esquisita, desagradável, falsa,
petulante. Analisava-a, decompunha-a com raiva, soletrava-a furioso. Só o
diabo saberia dizer a que soava, de fato, essa palavra ruim, cheia de duplos
sentidos. Finalmente, lembrou-se de ter lido há muitos anos, durante uma
viagem, um livro que simultaneamente o espan¬tara, torturara e, de modo
secreto o fascinara. Chamava-se A Princesa Vidrada. Era uma verdadeira
maldição! Tudo o que se relacionava com a estatueta - a cor, o vidrado, o
sorriso - significava hostilidade, veneno, feitiço. A Princesa também fora
transformada por um inimigo que escondera sua maldade sob o artifício de um
sorriso. E recordou então o estranho sorriso do seu ex-amigo Erwin, quando
lhe entregou a estatueta! Tão estranho, tão veladamente hostil.

Friedrich lutava corajosa e virilmente contra essa obsessão que lhe
torturava o espírito e não se pode dizer que era mal sucedido em sua
batalha. Pressentia nitidamente o perigo e não queria enlouquecer. Preferia
mil vezes morrer. A lucidez mental era imprescindível, a vida não. E
admitiu que talvez isso fosse o resultado de uma obra de magia, que Erwin,
com a ajuda dessa estatueta, o tivesse enfeitiçado de algum modo - fazendo
com que ele, o defensor implacável da inteligência esclarecida e da
ciência, caísse em poder dessas forças ocultas. Mas... se isso fosse
verdade, se ele era capaz de admitir essa possibilidade... então existia,
sim, então a magia era uma realidade! Não, era preferível morrer a admitir
semelhante coisa!

Um médico receitou-lhe passeios e abluções. À noite, procurou algumas vezes
distrair-se nas tavernas movimentadas. Mas pouco adiantava. Amaldiçoou Erwin
e amaldiçoou-se a si próprio.

Certa noite, estava ele deitado em sua cama e, como ocorria com freqüência
nessa época, desperto antes do tempo, sem conseguir conciliar de novo o
sono. Sentia-se indisposto e assustado. Perdera a antiga confiança nos
poderes absolutos de sua inteligência. Queria raciocinar, procurar conforto
em algumas frases lúcidas, tranqüilizantes, algo como "dois e dois são
quatro". Mas nada lhe acudia à mente, ficava balbuciando frases indistintas
e confusas, articulando palavras sem sentido exato. Por vezes, seus lábios
moviam-se instintivamente para proferir aquela frase que vira escrita
algures, que já tivera diante dos olhos, não sabia bem onde. E balbuciava-a
entre dentes, como se quisesse narcotizar-se, como se tentasse voltar do
caminho estreito à beira de um abismo insondável para as delícias do sono
perdido.

De súbito, ao falar mais alto, as palavras apenas balbuciadas penetraram,
de chofre, em seu consciente. Friedrich as conhecia agora. Ouvira-as
nitidamente. Sua própria voz cla¬mava: "Sim, agora estás dentro de mim!"
Compreendeu ime¬diatamente o que isso significava. Sabia que essas palavras
se referiam à estatueta de porcelana e que, nessa hora da noite, com um
rigor implacável, a profecia de Erwin estava se cumprindo: aquela figura
grotesca que ele tivera em suas mãos e olhara com desprezo, já não estava
mais fora dele, estava den¬tro! "Pois o que está fora, está dentro."

Levantou-se de um salto, como se gelo e fogo percorressem seu corpo a um só
tempo. O mundo girava vertiginosamente à sua volta. Friedrich vestiu-se às
pressas, saiu de casa e correu, envolto pela noite da cidade adormecida, à
casa de Erwin. Viu luz acesa no conhecido gabinete de estudos do velho
amigo. O portão estava aberto. Tudo parecia indicar que era esperado.
Trêmulo, empurrou a porta do gabinete de Erwin e apoiou-se, quase
desfalecido, na escrivaninha. Com o rosto iluminado pela suave luz do
abajur, Erwin sorria. Levantou-se de sua poltrona e, afavelmente, disse:

- Então vieste. Sim, foi bom que viesses.

- Tu... estavas à minha espera? - murmurou Friedrich.

- Espero-te, como sabes, desde o instante em que saíste de minha casa,
levando o meu pequeno presente. Aconteceu, por acaso, aquilo que te disse
aquela vez?

- Aconteceu - sussurrou Friedrich. - O teu ídolo está agora dentro de mim.
Não o suporto mais.

- Posso ajudar-te? - indagou Erwin.

- Não sei, não sei. Faz o que quiseres. Fala-me de tua magia. Explica-me
como o ídolo poderá sair novamente de mim.

Erwin colocou a mão no ombro do amigo. Levou-o até uma poltrona e convidou-o
a sentar-se. Depois, dirigiu-se cari¬nhosamente a Friedrich, num tom quase
paternal.

- O ídolo sairá novamente de ti. Confia em mim. Confia sobretudo em ti
mesmo. Com ele aprendeste a crer. Agora terás de aprender a amá-lo. Sim, ele
está dentro de ti mas já sabes que não morreu. Por enquanto, tampouco é algo
com vida. Circula em ti como um espectro, um fantasma sem vida própria.
Acorda-o, fala com ele, indaga-o, insufla-lhe vida. Friedrich, ele é tu
mesmo! Não o odeies, não o temas, não o tortures... como tens torturado
aquele pobre ídolo que és tu! Meu pobre amigo, como te amarguraste a ti
próprio!

- É esse o caminho da magia? - perguntou Friedrich, afundado na poltrona, a
expressão envelhecida. Sua voz era suave.

- Esse é o caminho - respondeu Erwin. - E o passo mais difícil já deste.
Poderás negar a tua própria experiência? Que o fora pode tornar-se dentro?
Tens vivido além das fronteiras dos pares opostos. Pareceu-te um inferno?
Pois acredita, amigo, que é o céu. O céu que te espera. E que nome se
poderá dar, se não o de magia, a algo que troca o fora por dentro, não por
coação, não com sofrimento, como até agora aconteceu contigo, mas
livremente, por uma imposição da nossa própria vontade? Assim poderás
invocar o teu passado e o teu futuro, pois ambos se encontram dentro de ti.
Até hoje, Friedrich, tens sido escravo do teu íntimo. Aprende a ser o seu
senhor. Isso é magia!

quarta-feira, novembro 29, 2006

JUNG E A NOVA ERA: um estudo sobre contrastes
por David Tacey
Título do original: "Jung and the New Age: A Study in Contrasts" by David Tacey, Ph.D., originally published on the Internet in English at The Round Table Review
O nome de Jung tem sido associado com a Nova Era por cerca de três décadas, mas agora sua alegada "influência" sobre este movimento está sendo formalmente proposta e articulada. Em New Age Spirituality, Duncan Ferguson argumenta que Jung tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento desta espiritualidade popular(1), e mais recentemente no New Age Movement o sociólogo Paul Heelas assevera que Jung é uma das "três figuras-chave" (as outras sendo Blavatsky e Gurdjieff) responsáveis pela existência do movimento(2). Em similar disposição, Nevill Drury mantém que "o impacto de Jung sobre o pensamento da Nova Era tem sido enorme, maior, talvez, do que a maioria das pessoas percebe"(3). Em todo lugar a asserção está sendo feita de que o movimento Nova Era é um produto de influência junguiana, e hoje terapeutas de uma diversa faixa de campos, todos, proclamam ser junguianos, ou referem-se a Jung como seu ancestral espiritual, autoridade científica, inspiração ou fonte. Serão válidas tais asserções?
Quão junguiana é a Nova Era? Havendo explorado assimilaridades e diferenças entre a espiritualidade da Nova Era e a metapsicologia junguiana, concluo que a Nova Era é não-junguiana ou anti-junguiana em vários importantes aspectos, que serão considerados aqui.Jung tem claramente vários pontos em comum com a Nova Era. Ambos, Jung e a Nova Era, concordam que significado espiritual não é sinônimo de, e não pode ser contido pelos estabelecimentos e instituições religiosos da cultura ocidental. Jung e a Nova Era estão interessados em explorar fontes não-cristãs, pré ou pós-cristãs, de significado espiritual; ambos estão interessados em gnose, alquimia e tradições contemplativas orientais. Jung e a Nova Era olham além, para o futuro, com um grau de otimismo, vendo um"espírito" que trabalha através da história anunciando um objetivo ou ideal futuro que ainda tem de ser compreendido. Ambos olham adiante para uma visão futura que, talvez paradoxalmente, nos ensine como viver no presente. O presente vive em antecipação de um futuro "melhor", e para Jung o ideal pode ser sumarizado na palavra "totalidade", um ideal que ele freqüentemente contrasta com a ética cristã de"perfeição". A Nova Era, também, gosta de privilegiar "totalidade" sobre "perfeição", assim como enfatiza o Deus imanente sobre o Deus transcendente.Às vezes parece que a espiritualidade da Nova Era é simplesmente a psicologia junguiana numa ordem ampliada, levando o modelo de Jung para o mundo exterior e distribuindo sua sabedoria para as multidões necessitadas de direção espiritual. Mas é claro que aquilo que a Nova Era parece estar fazendo e o que ela efetivamente faz são coisas bastante diferentes. A Nova Era não é uma filosofia religiosa coerente e com freqüência parece estar dirigida mais por interesses comerciais e forças de mercado do que por qualquer posição filosófica particular. É amplamente junguiana em sua ênfase sobre a autoridade espiritual da experiência individual (que Jung emprestou do protestantismo), sobre a necessidade de transformação religiosa e cultural (que Jung derivou do romantismo alemão), e sobre a importância de métodos não-ortodoxos de atingir unidade com o Criador(que Jung emprestou da Gnose, Hermetismo, e Alquimia).O valor da Nova Era está em como ela desafia aortodoxia religiosa ocidental para chegar em novas e culturalmente relevantes interpretações do espírito humano. A Nova Era é um "explode coração"(4) das massas, um clamor para tornar a espiritualidade relevante a nossos tempos e emocionalmente relacionada à experiência humana individual. É um movimento popular que reverte muitas das atitudes, tendências, e visões que são encontradas na religião ocidental tradicional, especialmente visões sobre o corpo, sexualidade, natureza e desejo. É um movimento que segue e estende um processo arquetípico que está baseado no "princípio feminino", é compensatório ao ocidente patriarcal, e tem ligações com o Romantismo, a Gnose, o Paganismo, o Naturalismo, o Nudismo, e o Ocultismo.Se a Nova Era parece junguiana não é porque tem usado Jung, mas porque obtém sua vida a partir de uma forte corrente arquetípica que podemos associar com Jung porque ele claramente mapeou este território psicoespiritual. Jung esteve especialmente interessado nos processos arquetípicos que são "compensatórios" para o ocidente patriarcal, portanto isto o traz ainda mais próximo dos interesses da Nova Era. Entretanto, Jung não celebrou ingenuamente ou idealizou estas correntes compensatórias na psique ocidental. Ele identificou estas correntes e as nomeou, mas sua resposta a elas era sempre crítica, destacada, e ambivalente. Jung continuamente buscou integrar opostos conflitantes e elementos contraditórios (comoPaganismo e Cristandade) em um conjunto maior, e quase nunca deu preferência a um conjunto de asserções arquetípicas às expensas de outro. Embora Jung profeticamente visse que os conteúdos "femininos" e"pagãos" estivessem em ascensão na psique ocidental, nunca pregou que nos abandonássemos a estes conteúdos; pelo contrário, ele sentiu que a tarefa da individuação envolvia resistir a estas forças coletivas e desenvolver uma resposta crítica a elas.Qualquer movimento coletivo que se identifica com um processo arquetípico não vai, virtualmente por definição, entrar em acordo com o gosto junguiano, que está baseado na ética e estética da individuação. O ataque de Jung sobre o que ele chamava "identificação com a psique coletiva" é conveniente e deliberadamente ignorado por todos estes terapeutas, consultores, defensores e xamãs da Nova Era, que gostam de celebrar livremente e mesmo "adorar" os conteúdos arquetípicos novamente constelados. Os desejos pagãos, os impulsos gnósticos, e as lutas espirituais não-ortodoxas que foram reprimidas por centenas de anos no Ocidente têm sido liberados após o colapso da autoridade do Cristianismo, e agora encontramos, sem qualquer inibição, estes conteúdos alardeados diante de nós.Embora a Nova Era tente corrigir atitudes prevalescentes da secular e religiosa cultura ocidental, uma análise crítica mostra as limitações da atitude da Nova Era e sua divergência a partir de uma posição junguiana, particularmente em três áreas.(1)
De Deus a Gaia: reencantamento espiritual nacultura ocidentalA atitude prevalescente na secular cultura ocidental éde que os antigos deuses estão há muito mortos, e, mais recentemente, nosso Deus-Pai judeu-cristão também morreu. Não há vida metafísica ou espiritual, e o mundo foi esvaziado de significado religioso. A fé no espiritual foi erradicada pela educação secular, e a religião hoje é meramente a província dos não-educados, os pobres ou os supersticiosos. A busca moderna e progressiva é por liberação social e pessoal, e entre as primeiras coisas a serem descartadas enquanto marchamos em sentido à liberdade está a subjugação à autoridade religiosa e obediência ao sagrado.A atitude prevalescente na cultura religiosa ocidental é de que a religião patriarcal tradicional está perdendo autoridade enquanto o mundo se torna mais pagão, e à medida em que a sociedade se torna mais permissiva em sua atitude a respeito de desejo, sexualidade, e satisfações temporais. Enquanto o superego ocidental enfraquece, permitindo aos impulsos mais "naturais" governarem a vida social, a Igreja com freqüência considera que tem de fortalecer sua resolução e escorar as reivindicações da vida transcendental. Portanto as igrejas freqüentemente parecem sitiadas e reacionárias, trancadas em uma situação defensiva e refreando as marés da mudança.Tentando corrigir estas abordagens, a atitude da NovaEra é de mover-se com o fluir dos tempos, admitir o reino do desejo e da ânsia, encorajar o movimento pagão da sociedade, mas adicionar a este movimento uma dimensão sagrada ou espiritual. A Nova Era basicamente confere "bênção espiritual" a tendências e atitudes que já são existentes na cultura ocidental: consumismo, hedonismo, materialismo e narcisismo. A Nova Era não oferece uma crítica da sociedade, mas simplesmente mitologiza e mistifica as coisas que já nos preocupam. Assim, em uma sociedade ocidental encharcada de sexo e obsecada com o corpo, a Nova Era propõe "sexo sagrado" e argumenta que o corpo é "o templo da alma". Em uma sociedade governada por desejos materiais e gratificação instantânea, a Nova Era propõe uma crença vitalística em "energia verde", vê riqueza como um símbolo de "opulência espiritual"(numa reversão da moralidade judeu-cristã), e considera "relaxamento profundo" como uma busca sagrada (revertendo a santificação cristã de trabalho e fadiga). A Nova Era, como a secular tendência dominante, aponta seu nariz para a autoridade daIgreja, vê o puritanismo como sombrio e embotado, e não está muito interessada em ressuscitar nosso recentemente falecido Deus-Pai.A Nova Era está especialmente interessada em deidades pagãs de tempos antigos, os espíritos de culturas xamanísticas, e as figuras divinas de religiões orientais. Embora diversa e politeísta em seus gostos, a deidade dominante da Nova Era é provavelmente aDeusa-Terra ou Deusa-Mãe, seja espelhada como Gaia,Deméter, Cibele, Afrodite, Astarte, ou numerosas outras figuras similares em vários contextos históricos e culturais. A Nova Era é profundamente não-histórica, universalista e essencialista em seu foco filosófico. Seu mote parece ser "qualquer deus(a)vai servir", na medida em que não seja o Deus com o qual temos sofrido pelos últimos dois mil anos de religião oficial. Em mitologias antigas, a Deusa-Terra nunca aparece por si mesma, mas está sempre representada com seu consorte, filho-amante, ou sacerdote, e o mesmo é verdadeiro para sua mais recente aparição na Nova Era. O consorte da Deusa usualmente simboliza sua própria fecundidade e fertilidade, e assim suas capacidades fálicas são geralmente enfatizadas, em figuras tais como Pan, Dioniso, Adônis, Tamuz, e especialmente Príapo. Na Nova Era, o filho-amante ou sacerdote da Deusa-Mãe é com freqüência celebrado em uma figura composta que é algumas vezes chamada de "Homem Verde". O Homem Verde simboliza a fecundidade da terra, o ciclo sazonal de crescimento-morte-renascimento, e a "unidade" de todas as coisas naturais e orgânicas. Se Cristo é mencionado na Nova Era, ele está usualmente implicado somente em sua forma como o Filho da Grande Mãe, como o deus-ano morrendo e ressurgindo, que é ritualmente pranteado por sua Mãe e pelas Mulheres Sagradas ao pé da cruz. ANova Era, por assim dizer, pode adaptar o retrato católico-romano de Cristo a seus próprios propósitos, mas não tem tempo algum para o Cristo protestante e patriarcal.A Nova Era enfatiza a missão urgente e redentora de sua visão religiosa. Almeja trazer novo mistério e encantamento para um mundo que tem se tornado cansado, deprimido e desencantado. Procura reacender a vida do espírito em um mundo que se tornou demasiado racional,cínico, desiludido. Procura redespertar a consciênciado corpo em uma cultura que se tornou muito presa à cabeça. Acima de tudo, a Nova Era tem um imperativo ecológico e salvador-do-mundo: recuperar respeito pela terra, pela matéria (derivada do Latim "mater", significando "mãe"), pela fisicalidade, e pelo ambiente biológico em um tempo no qual o progresso patriarcal tem perpetrado enorme dano (parte dele irreversível) sobre a teia biofísica da vida. A "jogada" é que somente a Deusa-Mãe e seu Homem Verde podem nos salvar do apuro do ocidente patriarcal. Este novo mito é encontrado não apenas em ecofilosofia e ecoespiritualidade, em ecologia profunda e em teologiaecológica, mas também em filmes populares, tais como"Fern Gully", em cartuns e espetáculos de guerreiros ecológicos como "Capitão Planeta", panfletos ecológicos, literaturas ativistas e ficções populares. Mitologias e valores ecológicos da Nova Era são também encontrados no sistema público de educação, programas de estudos ambientais, políticas verdes, na mídia e no entretenimento. Estamos testemunhando a ascensão de um poderoso e arcaico mitologema, um testemunho ao fato de que "mitos" nunca morrem, e que em culturas seculares e "desmistificadas" como a nossa os mitos não somente sobrevivem mas desenvolvem-se - eles são ainda mais poderosos por não serem considerados como"míticos".Como Jung responderia a este aspecto da Nova Era? Jung morreu em 1961, alguns anos antes que a Noiva Era ganhasse impulso internacional, e antes que o movimento ecológico fosse estabelecido (nos dias de Jung referiam-se a este como "conservação", e era usualmente da competência dos politicamente conservativos). Entretanto, ele tinha previsto a ascensão do paganismo na psique ocidental(5), e já tinha, de fato, identificado este paganismo ressurgente como a fonte arquetípica para o fascismo e nacional-socialismo do século vinte(6).Em assuntos religiosos, Jung era tanto Cristão quando Nova Era. Jung podia ver que os antigos deuses e deusas pré-cristãos ainda estavam vivos, e freqüentemente os descobria na psique como o núcleo central de complexos e psiconeuroses. Jung estava interessado no pré-cristão, no não-cristão, no pós-cristão, mas diferentemente da Nova Era ele não era anti-cristão. Ele não sofria de preconceito anti-cristão, nem se sentia obrigado, como James Hillman depois dele, a cantar os louvores da Grécia Antiga e enquanto isso denunciar a herança judaico-cristã. Jung estava empenhado na tarefa de restaurar o Deus Cristão à dignidade cultural e à compreensão humana. Jung podia ver que a unilateralidade da cultura e religião patriarcais necessariamente constelaria o despertar de figuras arquetípicas femininas e matriarcais, mas sua resposta a estas figuras era ambivalente. Por um lado, precisamos encorajar o feminino arquetípico a apresentar-se após séculos de repressão e esquecimento. Por outro lado, mal podemos permitir ao feminino tomar "posse" da consciência; deve ser integrado e não permitido a dominar em uma nova, igualmente extrema e portanto igualmente indesejável unilateralidade.Jung teve um complexo materno positivo, e isto inclinou-o a muitas das artes e ciências matriarcais que têm sido "banidas" pelo patriarcado, as quais já estavam se tornando disponíveis ao público nos próprios dias de Jung. O interesse de Jung em astrologia e adivinhação é bem conhecido, e virtualmente sozinho ele recuperou a antiga arte da alquimia para moderna investigação científica epsicológica. Jung também estava ecológica e romanticamente atado às paisagens, terra, árvores, muito antes destas atitudes se tornarem celebradas e entrincheiradas na ecologia popular. Talvez mais do que o próprio Jung, seu seguidor maior Erich Neumann estava embebido na consciência de que o feminino arquetípico estava a ponto de deslocar e desafiar as fundações arquetípicas do patriarcado, como podemos ver especialmente em seu The Great Mother e The Archetypal World of Henry Moore. Mais recentemente, o analista junguiano Edward Whitmont dedicou um volume inteiro, Return of the Goddess, ao fenômeno do despertar do feminino arquetípico e seu fálico filho-amante no contexto da modernidade e da pós-modernidade.Jung concordaria com a Nova Era que se uma grande mudança na atitude cultural deve ser efetuada, incluindo uma dramática mudança de coração a respeito do relacionamento da humanidade com o ambiente e o mundo físico, então o suporte arquetípico deve ser evocado para habilitar a humanidade a "sentir diferentemente" acerca do mundo. Mudanças sociais que operam puramente a partir do nível racional, como uma chamada a despertar a consciência moral a respeito do mundo, ou uma chamada a intensificar a responsabilidade ética sobre o ambiente, não serão efetivas, porque as mais profundas emoções do homem não foram ativadas ou excitadas. Jung não era um positivista social, não acreditava na fantasia de que a sociedade está inevitavelmente se tornando "melhor", mas estava convencido do poder do mito e sua habilidade para mobilizar ações humanas e galvanizar resposta coletiva. Se uma transformação espiritual pode ser perseguida, e pode ser desenvolvida uma nova perspectiva que vem de reviver a visão antiga de que aTerra é nossa "mãe ancestral" ou fonte espiritual, tanto melhor para o futuro da Terra. Estou certo de que Jung sentiria que a remitologização teria de acompanhar a revolução social, e que o retorno de Gaia, Deméter ou Afrodite a um estado mítico vivente é um pequeno preço a pagar pela sobrevivência do próprio mundo, sua biodiversidade e seus habitantes.Como mencionado, Jung seria crítico se ele sentisse que um novo culto de Gaia, ou da assim chamada Hipótese Gaia, viria às expensas do Deus-Pai, o princípio masculino, e o animus. Qual seria o ponto, ele perguntaria, de dois mil anos ou mais de diferenciação do masculino arquetípico, se estamos preparados para atirar fora tudo isso em uma respostade pânico ao apuro do mundo? Por que temos de avançar rumo a uma enantiodromia (uma corrida de um extremo oposto a outro) cultural, quando temos a oportunidade de considerar ambos os lados do espectro arquetípico?Por que decidir por uma nova unilateralidade quando nosso mais profundo imperativo, tanto para nós quanto para nossa cultura, é por um esforço voltado à totalidade e unidade? Por todos os meios tragam Gaia e tragam de volta Deméter, mas deixemo-nos engajar estas personalidades arcaicas em um diálogo pleno de sentido com a espiritualidade Cristã e a religião ocidental.Enquanto estamos nisso, deixemo-nos também trabalhar para uma recuperação da dimensão feminina perdida dentro do Deus Judeu-Cristão da mesma maneira (comoSofia, Lilith, Maria, Sabedoria, e Espírito Santo). Mas ao lançar fora nossa água-de-banho cultural, Jung avisaria que lançar fora também o Menino Jesus acarretaria uma explosão completa de repressão do espírito masculino, e a perigosas repercussões e conseqüências do esquecido ou banido reino domasculino.(2)
De Sofrimento a Beatitude: o novo vício em experiências de picoA atitude prevalescente nas tradições religiosas efilosóficas ocidentais é a de que a humanidade é essencialmente trágica e vida é sinônimo de sofrimento. Há um penetrante pessimismo sobre o valor e o potencial humano, que tem se erguido a partir da doutrina do pecado original, a noção de degradação humana e inata tendência para o egotismo servente asi. A espiritualidade cristã atinge seu objetivo não pelo incremento à estatura do self, mas pelo deslocamento do self inteiro em favor da humildade, do esvaziamento, e de um tipo de preenchimento negativo, através do qual o divino aumenta sua completude em proporção direta à redução do ego. No humanismo ocidental, também, o self é sentido como sendo inerentemente limitado e falho, e qualquer tentativa de sobrepujar a limitação humana inevitavelmente vai dar de encontro com inflação moral e arrogância satânica. Sabedoria e direção espiritual não reduzem nosso sofrimento, mas fazem-no suportável e dão a ele significado mais elevado. O símbolo para o quinhão da humanidade na tradição religiosa ocidental é Cristo na cruz.A atitude da Nova Era é de que a cultura ocidental é muito mórbida e depressiva, e precisamos mudar o roteiro que temos a respeito de nós mesmos. A Nova Era substitui o senso ocidental de tragédia com um intenso otimismo acerca da transformação individual e social."Uma 'nova' era é possível; o potencial humano é sem limites; sua dinâmica está disponível e acenando.Ênfases no pecado e no mal, na redenção e na conversão devem ceder a um mundo de 'bênçãos originais' em uma boa criação"(7). O homem não mais precisa crucificar-se na imagem do Cristo; ele pode descer da cruz, e celebrar sua existência corpórea, carnal, e sua capacidade para entrar em diálogo transformativo com o divino.O homem da Nova Era procura por experiências de pico, altas, estados alterados de consciência, e evita as baixas, depressões e árido pessimismo. Ele procura por espiritualidade, por o que se lê "dispositivos e técnicas que me conectarão com o divino", e com freqüência evita ou rejeita as religiões estabelecidas, pelo que se lê "estas estruturas dogmáticas que limitam minha liberdade individual, inibem a expressão espiritual e diminuem as expectativas pessoais de glória". A espiritualidade promete altos, mas a religião ameaça com sua ênfase sobre restrições morais, consciência social e obrigações éticas. O homem da Nova Era quer a Meta (unidade com o divino) sem o Caminho (a disciplina, ética, e auto-cancelamento que tornam tal unidade possível). Ele quer jubilosa união sem o sofrimento da cruz, renascimento espiritual sem ter primeiro que suportar a morte espiritual. Ele está "enganchado" no sagrado, viciado em técnicas e práticas espirituais, e seu credo é: "Siga sua beatitude"(8) (JosephCampbell).Uma resposta junguiana seria a de duvidar da autenticidade desta assim chamada "espiritualidade" se ela está projetada meramente para prover gratificação instantânea para o ego. Jung ficaria suspeitoso de uma separação demarcada entre "espiritualidade" e "religião" se estiver designada simplesmente a separar"altos" de "baixos", ou luz de sombra. Jung veria qualquer otimismo sem fronteiras como uma defesa contra a escuridão, e apoiaria o ocidente cristão em sua ênfase sobre o sofrimento inevitável. De acordo com Jung, nunca se pode escapar do sofrimento, mas deve-se abraçá-lo e aceitá-lo como parte da condição humana.Uma grande diferença entre Jung e a Nova Era diz respeito a sua descoberta ou "localização" do sagrado.A despeito da retórica da Nova Era sobre a "imanência"do divino e da "mundialidade" de sua visão espiritual, a Nova Era parece estar presa em uma interpretação tipicamente ocidental e transcendentalista do espírito. A Nova Era tende a encontrar suas experiências espirituais "afastada" da vida e "além" do solo da experiência ordinária. É atraída para o bizarro e exótico, para o extramundano e xamanístico.Uma experiência espiritual é um vôo para longe do real, daí a importância da palavra "alto" para descrever esta espiritualidade popular. A Nova Era não é redentora ou transformadora, e neste sentido a Cristandade é uma filosofia muito mais radical na medida em que procura engajar e redimir os elementos desta realidade. Poderia ser que a Nova Era tenha herdado a altermundialidade da Gnose histórica, com sua impaciência com o real e seu foco metafísico sobre um cosmo distante?Por contraste, Jung descobre espiritualidade em e através de nossas patologias humanas, não por meio da transcendência delas. Jung sustenta que para a humanidade moderna "os deuses viraram doenças", e encontramos nossa sacralidade rejeitada e reprimida no centro das doenças, no núcleo das psiconeuroses, e no meio da angústia mental. Qualquer movimento coletivo que ache a psicopatologia mórbida, escura, ou indigna de interesse, está efetivamente perdendo a oportunidade espiritual do tempo e não merece o nome de "espiritualidade". A Nova Era, {vista} a partir desta posição junguiana, trabalha incansavelmente para evitar qualquer verdadeiro encontro com o verdadeiro sagrado, preferindo em vez disso seguir algum ideal de ego abstrato e inteiramente convencional a respeito de como é o sagrado.Jung reconheceria na Nova Era uma confusão fundamental entre o ego (self pessoal) e a alma (ou o Self no sentido junguiano mais amplo). Na verdadeira prática religiosa, é a alma que encontra remissão e libertação, pois esta é a parte imortal da pessoa(9).Paradoxalmente, a salvação da alma é ao mesmo tempo uma mortificação do ego, daí a formulação: "quem quer que perca sua vida por minha causa a encontrará"(Mateus 16:25)(10). No passado, a necessária mortificação do ego foi confundida com a mortificação do corpo, da sexualidade e do feminino, e isto surgiu amplamente a partir da cisão, na psique ocidental, entre o espírito e a matéria. Mas hoje, com nosso conhecimento psicológico maior, ficamos mais próximos do mistério cristão percebendo que é o si-mesmo pessoal, o ego, que precisa ser deslocado de modo que a salvação possa tomar lugar. Na Nova Era, não há verdadeira separação entre o si-mesmo pessoal e a alma transpessoal; assim, o primeiro estágio na verdadeira consciência religiosa não é adquirido; ou, em vez disso, um processo religioso é conduzido e em cada ponto desta jornada a vida espiritual é contaminada com os desejos e ânsias do ego. Neste caminho a jornada espiritual é corrompida, e degenera em uma viagem de ego. À medida em que a alma é libertada de seus grilhões e é elevada a uma realidade maior, o ego quer viajar junto com ela, e o êxtase da libertação do espírito é um êxtase que o ego quer para si.De maneira similar, o faminto ego da Nova Era espia a grandeza e poder de Deus, e se identifica com aquele poder, vendo Deus como algum "recurso sobrenatural não-represado" que pode ser utilizado para a "expansão de potencial humano". Esta é uma fantasia prometéica selvagem e sem limites, e a Nova Era efetivamente acredita no mais fundo de seu coração que o homem pode se tornar Deus. Como Shirley MacLaine, um de seus expoentes populares, proclama: "Eu sou Deus, eu sou Deus, eu sou Deus"(11). Com suas raízes primordiais no movimento da psicologia humanística, isso casa ootimismo de Maslow e Rogers com as asserções selvagemente esotéricas de Blavatsky e Gurdjieff. Na maior parte da literatura popular, a Nova Era se gaba a respeito de quebrar fronteiras convencionais, realizando potencial oculto, e aspirando alturas divinas.Jung provavelmente classificaria isto como uma espiritualidade psicótica, uma espiritualidade em que o ego tem sido grotescamente inflado a proporções divinas. O papel secundário do ego não foi compreendido, e há uma profunda confusão psicológica e teológica sobre o significado da vida e o papel da humanidade em servir o divino. O homem da Nova Era vai dinamitando seu caminho para dentro do reino espiritual, esperando encontrar bem-aventurança, mas porque ele está tão narcisisticamente apegado ao ego suas experiências sempre dão de encontro com o desapontamento. O sacrifício do ego ao divino, que é tão básico para a experiência religiosa, não ocorre e não pode ocorrer, e assim tem lugar inconsciente e involuntariamente. Intelectualmente, o homem da NovaEra desposa uma filosofia sonhadora, paradisíaca, mas atualmente e de fato ele está cheio de queixas e amargura, porque nada parece caminhar direito, outras pessoas parecem concentradas em miná-lo ou arruiná-lo, e mesmo sua prática espiritual é criticada por ser inadequada. A "perda do ego" que deveria estar ocorrendo conscientemente cai no inconsciente e, como qualquer coisa inconsciente, está projetada para fora, sobre outros e o mundo.Entretanto, na espiritualidade da Nova Era, não apenas a perda do ego toma lugar inconscientemente, mas onecessário desenvolvimento e construção do ego ocorre tal e qual inconscientemente. Este é um lado diferente, mas relacionado, da trágica e indiferenciada fusão entre ego e alma. O ego precisa separar-se da alma de modo a descobrir sua própria identidade e vida. O ego precisa ativamente abraçar sua própria separação e mesmo arriscar "alienação" da alma para chegar a si. Como Jung deixou claro, o desenvolvimento do ego é sancionado arquetipicamente, e qualquer tentativa de abafar este desenvolvimento tem que resultar em desastre. Quando perguntado a respeito de sua prática espiritual, ou porque seu estilo de vida é tão diferente das pessoas comuns, os da Nova Era com freqüência declararão que "passaram por cima de", "pisotearam" ou "largaram" o ego ordinário. O que eles querem dizer com isto é que as coisas usuais associadas com o desenvolvimento humano foram abandonadas em favor de um estilo de vida mais pontuadamente relacionado com a realidade da alma.Entretanto, o ego não foi "largado", e por definição não pode ser largado; foi meramente (con)fundido com a vida da alma. Este é o cenário psicológico para o notório problema do egotismo desenfreado, emocionalidade, cisões e competitividade que infestamos grupos, cultos, seitas, ashrams, clubes, sociedades e comunidades da Nova Era. Embora todos estes grupos trabalhem em sentido à transcendência do ego em favor da alma, são freqüentemente destruídos por um egotismo secreto, escuro e maléfico, que corrói os altos ideais e eventualmente causa o colapso da edificação toda, muitas vezes com conseqüências devastadoras para a sociedade e para todos os envolvidos. O que começou com perfumes e cantos termina em tribunais de justiça e em inquéritos policiais: pagamos um preço enorme por reprimir nossos impulsos comuns e nossa humanidade básica.Não é possível livrar-se dos impulsos do ego, especialmente o impulso de poder e sua pressão poridentidade e estima, através de uma atitude intelectual que adota foco sobre coisas "mais altas".Embora a ênfase consciente seja sobre a "abertura"para o divino, juntar-se a uma vontade superior, emística "capacidade [de] negativa", o impulso de poder do ego se faz sentir na fixidez e dogmatismo com a qual estas metas "expansivas" são buscadas. Os devotos declaram que são "nada" perante o divino, ou sem valor diante do carismático professor, mas no pano de fundo há ferozes manobras por privilégios e lugares especiais, por poder e influência dentro do grupo. Nem pode o impulso sexual ser suprimido por uma intensa devoção (cheirando incenso) ao etéreo e interesses paradisíacos. O que é negligenciado ou rejeitado volta para nos visitar, e usualmente volta com considerável violência, de modo tal que o ashram local da Nova Era pode acabar como um covil de iniqüidade, "estourado"pela polícia e retratado na página três do jornal local. Embora adote os caminhos da beatitude e iluminação orientais, o trágico Ocidente encontra sua vingança engolfando tais ingênuos grupos no negativismo e no retorno do reprimido.Jung concordaria com a Nova Era que o Ocidente Cristão tem se tornado demasiadamente atado a um pessimismo constitucional e deprimente, um pessimismo que espanta muitos para longe da prática cristã. As possibilidades transformativas do autodesenvolvimento e da individuação dão origem a um certo grau de otimismo, e um espírito positivo que nos eleva para além do desespero e da miséria. Ele também concordaria que há uma necessidade maior por auto-conhecimento na religião ocidental, e que encontramos suficientemente demasiada "fé cega" no cristianismo, com muitas pessoas adotando crenças e doutrinas sem testar estes preceitos contra a experiência. Precisamos de exercícios espirituais, contemplações, dispositivos, sabedorias: o chamado do púlpito para "acreditar" não é mais suficiente, nem apropriado. Jung tolera muito do aparato espiritual da Nova Era; sua ênfase sobre diversidade e pluralismo, sobre sabedorias pré epós-cristãs, sobre meditação, introspecção, e experiência pessoal direta. Entretanto, a menos que a atitude correta seja adotada, o aparato e as tecnologias de auto-ajuda são mais do que inúteis: sãopositivamente perigosos. Seria melhor que o homem da Nova Era fechasse sua caixa de truques, fechando o ashram suburbano, e voltasse para a igreja ou sinagoga para aprender as lições da humildade e da modéstia.Não pode haver transformação espiritual alguma a menos que ego e alma estejam firmemente diferenciados.O ego e a alma têm ambos de ser vividos, expressos, celebrados, e desfrutados. Precisamos viver duas vidas simultaneamente, e especialmente para todos os ocidentais, como Jung alertou, a vida do ego não pode ser sub-repticiamente esquecida por debaixo de clamores e paixões de estados alterados de consciência. O ego do homem ocidental tem se diferenciado através de muitos séculos, e nenhum seminário espiritual ou curso de meditação de fim-de-semana se livrará dele com sucesso. O ego, nosso si mesmo (self) pessoal, nossa mortalidade, nossa separação de Deus, é o instrumento de nosso sofrimento, mas se este instrumento for explodido de modo a transcender o sofrimento, terminaremos em mais dor do que jamais antes. Humildemente, nosso sofrimento e incompletude têm de ser aceitos, e somente então alguma transcendência será possível.(3)
De Dualismo para Totalidade: a dissolução do si-mesmo em uma unidade primeva "Ninguém sabe melhor o verdadeiro significado de distinção do que aqueles que entraram na unidade". - Tauler A atitude prevalescente nas tradições filosóficas ereligiosas do Ocidente é a de que o mundo da experiência humana está baseada em uma série de dualidades e oposições binárias, como mente e corpo, masculino e feminino, intelecto e emoção, civilizado e primitivo. O mundo está estruturado como uma rede de forças opositoras e competidoras, e tipicamente um conjunto nesta rede de possibilidades (como masculinidade, intelecto, mente) está privilegiado sobre o conjunto oposto. O dualismo ocidental, muitas vezes designado como dualismo cartesiano, pode levar a um universo social e moral cindido, e estas cisões e desigualdades têm sido vigorosamente desafiadas e freqüentemente atacadas pelos principais discursos liberacionais da modernidade.A atitude da Nova Era é de reagir fortemente ao legado dualístico ocidental postulando uma contrastante cosmologia de totalidade. Para a Nova Era, o mundo é auto-evidentemente "um", todas as coisas são iguais, e as "dez mil coisas" de uma realidade complexa são simplesmente aspectos ou facetas diferentes da única verdadeira realidade. A Nova Era notoriamente toma emprestado o símbolo chinês do Tao ou Yin e Yang, com os lados luminoso e escuro equilibrados em completa harmonia, como seu símbolo para a "nova" cosmologia de totalidade. De acordo com a Nova Era, a mente ocidental que percebe cisões e divisões está meramente projetando sua própria divisão neurótica sobre a realidade unitária do universo.Para a Nova Era - e aqui sua atitude faz coro com certas atitudes prevalescentes em construtivismo e pós-modernidade -, cisões, dualidades, distinções, são meramente criações fictícias de uma mente imperiosa, patriarcal, julgadora. A tarefa da consciência avançada é ver através destas divisões, dissolvendo-as e retornando o mundo à sua unidade original. A meta primária da meditação e da prática espiritual da NovaEra é quebrar as barreiras que tanto preocupam(12) o intelecto racional (a mente ocupada, daninha), e passar através da unidade ou totalidade primeva."Todas as coisas em uma" é uma expressão padrão, e muitas pessoas dentro deste movimento concordam que atingir esta realização é avançar a consciência ocidental para além de sua condição presente.A atitude junguiana à primeira vista pareceria estar em pleno acordo com a Nova Era e sua retórica de totalidade, dada a bem conhecida preocupação de Jung com unidade, mandalas, e o Self como o "arquétipo da totalidade". Em seu desejo de substituir o dualismo ocidental com um novo holismo, a Nova Era está quas eaxiomaticamente assumida como seguindo uma direção"junguiana".Entretanto, Jung contrasta fortemente dois diferentes tipos ou modelos de totalidade. O primeiro é o que ele chama de "totalidade pré-consciente", a totalidade do universo primevo e amorfo, uma unidade indiferenciada como uma sopa, que existe como um a priori à consciência. Nesta unidade primordial, os pares de opostos estão fundidos, não porque foram unidos em uma totalidade maior, mas porque ainda não foram diferenciados uns de outros. Tudo é "um" porque os"muitos", e os conflitantes pares de opostos que constituem os muitos, ainda não foram trazidos à existência. Esta totalidade é descoberta em mitologias antigas que idealizam um "paraíso" original do qual todos decaímos ou partimos. Também é descoberta em certos tipos de misticismo, em cosmologias altermundanas, e nos sonhos e fantasias de pacientes profundamente regredidos que acham difícil aceitar as tensões e estresses da existência consciente. Existir no tempo e no espaço é estar "rasgado em dois", estar dividido, e experimentar em primeira mão a disputa arquetípica entre as oposições binárias que compõem nossa vida psíquica. Jung identifica esta totalidade original, pré-mundial, com o arquétipo da Grande Mãe, e estes que procuram o incestuoso "retorno à mãe" estão dispostos a idealizar esta condição primeva.Neumann desenvolveu a hipótese de Jung da "grande roda" chamando a este símbolo o Uroboros, ou a serpente que morde o próprio rabo.Em contraste, Jung postulou, e defendeu, um segundo tipo de totalidade na qual os pares de opostos, separados pelo advento de uma consciência polarizada e unilateral, tornam-se novamente juntos em uma unidade relativa. Esta totalidade, ele sentiu, é o objetivo e ponto-final (telos) da realização consciente. Se a primeira totalidade pode ser paralelizada com o Éden ou o Paraíso, a segunda totalidade, recuperada, pode ser comparada com a Nova Jerusalém de Blake. Se a primeira totalidade é infantil, e ligada com o"sentimento oceânico" de Freud, a segunda é um estado mais elevado de consciência, governada não pela Mãe, mas pelo arquétipo do Self. Jung e especialmente Neumann sentiram que era crucial diferenciar entre estes dois tipos de totalidade porque, enquanto a totalidade original pode representar a meta de uma consciência fraca e exausta que desistiu do esforço da vida, a segunda totalidade representa uma consciência que está avançando a alma do mundo (anima mundi) pela recusa em permitir que os pares de opostos se distanciem. O foco de um segundo tipo de totalidade é de que a integridade e identidade dos opostos está mantida e respeitada. Totalidade consciente não é um caos semelhante a uma sopa, mas uma unidade claramente diferenciada na qual todas as diferenças e distinções básicas têm sido honradas, vividas e reconciliadas:"Sem a experiência dos opostos não há experiência de totalidade"(13). Jung viu a mandala oriental, um"círculo mágico" no qual são preservadas a integridade das formas de vida, das estruturas geométricas e das figuras sagradas, como símbolo da totalidade diferenciada que ele tanto admirava.Meu senso é de que, contrariamente à opinião popular, Jung consideraria a totalidade da Nova Era como sendo quase inútil na medida em que advoga a primeira totalidade, a do tipo regressivo. A totalidade da NovaEra é amorfa, indiferenciada e sentimental. Muito casual e desembaraçadamente ela assevera a "unidade"de tudo, e o faz antes que a óbvia desunião e dissemelhança dos opostos tenha sido adequadamente experienciada. A Nova Era advoga um retorno à Mãe do Mundo, e sua ânsia por unidade é a ânsia do infante pela unidade com a mãe. A Nova Era não se vê como herdeira da cultura ou da história do Ocidente, e não está interessada em "completar" esta história, mas meramente em suprimi-la. Sua demanda por quietude imediata, sua ênfase em profundo relaxamento, sua impaciência com o mundo judeu-cristão e o esforço das eras, representa não tanto a culminação da tradição, mas a negação da tradição ocidental. A Nova Era não afirma o passado, mas quer começar tudo de novo, construir um futuro mais brilhante, menos trágico, e está cansada do embate dos opostos que constitui tanto de nossa história.De acordo com Jung, a tarefa da humanidade é tornar consciente, e trazer para a reconciliação simbólica, o esforço e tensão que são inerentes à construção do universo. A importância da "humanidade" para "Deus" é que a humanidade pode expressar, viver, e esperançosamente transformar os elementos conflitantes primevos dos quais o Ente Supremo é como que "inconscientemente" composto. A humanidade traz os elementos querelantes da natureza de Deus, a luz sublime e a misteriosa escuridão, a masculinidade e a feminilidade, o sublime amor e o terreno eros, em um novo tipo de relação. Se abandonarmos esta tarefa porque é muito exigente, se abandonarmos a crucifixão que espelha nosso doloroso sofrimento sobre a cruz de oposições, desistiremos então não apenas de nossa missão humana, mas também da antiga busca do divino por si mesmo.Jung argumentaria que não se pode falar de totalidade até que a escuridão ou "sombra" da natureza humana tenha sido maduramente aceita e integrada. Eis aqui onde a Nova Era trai seu infantilismo e sua fingida"totalidade", porque o lado escuro da natureza humana é quase sistematicamente ignorado. A Nova Era está voando da escuridão e da realidade do mal, vendo a escuridão meramente como a ausência de luz. Em sua ânsia por bem-aventurança e prazer, sua ênfase sobre o escape através da transcendência, a Nova Era perde a substância e a fundação com o real que tornaria possível uma integração da escuridão.Para Jung, a aceitação da escuridão nos envolve em um"próximo passo" maior na tradição ocidental. Onde aNova Era quer destruir a morbidez cristã, Jung quer aprofundar o senso de escuridão para uma nova imagem da própria divindade. "Deus nos enche de mal tal como de bem... e porque ele quer se tornar homem, a unificação de sua antinomia precisa tomar lugar no homem. Isto envolve o homem em uma nova responsabilidade"(14). A era cristã promoveu uma ética de perfeição em sua ênfase sobre a figura paradigmática de Cristo, mas uma era genuinamente nova ou vindoura estará, para Jung, baseada sobre uma ética da totalidade cujo foco não será Jesus, mas o EspíritoSanto. "O Espírito Santo é uma reconciliação de opostos e daí a resposta ao sofrimento no Ente Supremo que Cristo personifica"(15). Uma Nova Era do Espírito, de acordo com Jung, apresentará não a segunda vinda de um Cristo humano, mas "a revelação do Espírito Santo a partir do próprio homem"(16). A Era Vindoura não destruirá o Cristianismo substituindo-o com paganismo (a Nova Era), mas transcenderá o Cristianismo histórico substituindo a imitação de Cristo pela experiência direta e vivente do Espírito Santo. O próprio Cristo insinuou (João 16:7-13) que o Espírito Santo ou Confortador viria depois dele, não apenas para derramar as línguas do Pentecostes sobre seus discípulos, mas para impregnar toda a humanidade com o"espírito da verdade".Para Jung, portanto, uma compreensão correta da totalidade é essencial não apenas para nossa saúde psicológica pessoal, nosso bem-estar moral e ético, e nosso senso humano de sentido da vida, mas é o padrão pelo qual participamos na auto-evolução do divino. A totalidade da pessoa humana no esforço da individuação nos envolve simultaneamente na criação de uma nova ética, uma nova disposição psicológica e cultural, e uma nova fase em nossa história religiosa. É por isto que Jung insiste através de seus escritos que nós mantemos a tensão entre os opostos e nos movemos adiante; não devemos relaxar a tensão de modo que os opostos percam sua definição e retornem ao uroboros primevo. "Sem oposição não há fluxo de energia, não há vitalidade. A falta de oposição leva a vida a uma estagnação aonde quer que tal falta alcance"(17). Jung não era um guru da Nova Era que pregava profundo relaxamento e a dissolução do estresse, mas pelo contrário, ele implorava aos outros para permanecerem conscientes de divisões, fortalecer isso, e manter os opostos em relação dinâmica. Somente então poderá a"função transcendente", que em metapsicologia junguiana seria o Confortador ou Paracleto, vir em nosso auxílio e tornar suportável a carga que estamos carregando.Pelo lado positivo, Jung possivelmente consideraria o interesse da Nova Era por totalidade como uma prefiguração arcaica e incompleta de uma totalidade futura verdadeiramente autêntica. Quando os arquétipos primeiro aparecem na psique coletiva, eles com freqüência apresentam seu lado insípido e menos desenvolvido a princípio, devido a seu longo período de imersão nas profundezas do inconsciente. Embora conceitualmente a indiferenciada unidade do uroboros e a totalidade diferenciada da mandala estejam distantes anos-luz, em um nível psicológico e experiencial a primeira poderia bem ser a precursora da última. Isto também significa que o regressivo "retorno à mãe"poderia também prenunciar ou prefigurar como vamos negociar nosso "retorno ao Self" em um nível muito mais alto.
A "suave entrega" da Nova Era poderia representar tanto nosso desejo de abortar a jornada humana quanto uma tentativa de uma totalidade que transcende as realidades rompidas à força na era moderna.A Nova Era pode abrigar as sementes para o futuro, mas estas sementes são brutas, não-cultivadas, e precisam de muito refinamento. Sentindo estes augúrios e esta profética possibilidade, Jung provavelmente não seria totalmente exonerativo da Nova Era, mas concentraria suas energias em encontrar elementos nela que sejam dignos de crédito e interesse.
Notas1 Duncan S. Ferguson, ed., New Age Spirituality: AnAssessment, Louisville, Kentucky: Westminster/JohnKnox Press, 1993.
2 Paul Heelas, The New Age Movement: The Celebrationof the Self and the Sacralization of Modernity,Oxford: Blackwell, 1996, p. 46.
3 Nevill Drury, The Elements of Human Potential,Dorset: Element Books, 1989, p. 25.
4 (N. do T.): No original em inglês. "cry of theheart".
5 Jung, "Schiller's Ideas on the Type Problem" (1926),CW 6, § 150.
6 Jung, "Wotan" (1936) and "After the Catastrophe"(1945), in CW 10, § 371f.
7 Tony Kelly, "The New Age Movement", in An Expanding Theology, Sydney: E. J. Dwyer, 1993, p. 41.
8 (N. do T.): Frase original: "Follow your bliss".
9 (N. do T.) Talvez se aqui o leitor tomar pessoa (person) no sentido de personalidade mais do que no sentido restrito de sujeito o entendimento fique mais claro.
10 (N. do T.) No original: "who so ever will lose his life for my sake shall find it". Na Bíblia Sagrada em português, edição traduzida da Vulgata Latina pelo padre Antônio Pereira de Figueiredo, publicada pelaEditora Guarabu (RJ) em 1960, lê-se (em Mateus,16:25): "Porque o que quiser salvar a sua alma, perdê-la-á; e o que perder a sua alma por amor de mim, achá-la-á".
11 Shirley MacLaine, Going Within: A Guide for Inner Transformation, London: Bantam, 1990, p. 13.
12 (N. do T.) Aqui também o sentido está em preocupação como ocupação prévia.
13 Jung, CW 12, § 24.
14 Jung, CW 11