quinta-feira, agosto 18, 2005

PROCURA-SE UM AMANTE
(Dr. Jorge Bucay - tradução do original "Hay que buscarse un Amante")
Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam. Geralmente são essas últimas as que vêem ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insónia, apatia, pessimismo, crises de choro ou as mais diversas dores. Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e semperspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem comoocupar seu tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente perdendo a esperança. Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme:"Depressão", além da inevitável receita do anti-depressivo do momento. Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que elas não precisam denenhum anti-depressivo; digo-lhes que elas precisam de um AMANTE!É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho. Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas?!" Há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais. Àquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o seguinte: AMANTE é "aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso AMANTE é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.Às vezes encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis.Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predilecto... Enfim, é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" avida e nos afasta do triste destino de "ir levando". E o que é "ir levando"? Ir levando é ter medo de viver. É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, perambular por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a humidade, com o sol ou com achuva. Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo secontentar com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.Por favor, não se contente com "ir levando"; procure um amante, seja também um amante e um protagonista... da SUA VIDA...Acredite: o trágico não é morrer; afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém.Trágico é desistir de viver; por isso, e sem mais delongas, procure um amante...A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:"PARA SE ESTAR SATISFEITO, ATIVO E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ, É PRECISO NAMORAR A VIDA."
Answering Machine at a Mental Hospital……………


"Hello, and welcome to the mental health hotline......"
1) If you are obsessive-compulsive, press 1 repeatedly.

2) If you are co-dependent, please ask someone to press 2 for you.

3) If you have multiple personalities, press 3, 4, 5, and 6.

4) If you are paranoid, we know who you are and what you want. Stay on
the line so we can trace your call.

5) If you are delusional, press 7 and your call will be transferred to
the mother ship.

6) If you are schizophrenic, listen carefully and a small voice will
tell you which number to press.

7) If you are a manic-depressive, it doesn't matter which number you
press, no one will answer.

8) If you are dyslexic, press 9696969696969696.

9) If you have a nervous disorder, please fidget with the pound key
until a representative comes on the line.

10) If you have amnesia, press 8 and state your name, address, telephone
number, date of birth, social security number, and your mother's maiden name.

11) If you have post-traumatic stress disorder, s-l-o-w-l-y &
c-a-r-e-f-u-l-l-y press 0 0 0.

12) If you have bi-polar disorder, please leave a message after the beep
or before the beep or after the beep. Please wait for the beep.

13) If you have short-term memory loss, press 9. If you have short-term
memory loss, press 9. If you have short-term memory loss, press 9. If you
have short-term memory loss, press 9.

14) If you have low self-esteem, please hang up. All operators are too
busy to talk to you.

15) If you are menopausal, hang up, turn on the fan, lay down & cry. You
won't be crazy forever.

16) If you are blonde don't press any buttons, you'll just mess it up.

segunda-feira, julho 11, 2005

A complicada arte de ver

Rubem Alves Colunista da Folha de S.Paulo
Ela entrou, deitou-se no divã e disse: - Acho que estou ficando louca! Fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. - Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Acto banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto. Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: - 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca.Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo. Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de FernandoPessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa, garrafa, prato, facão, era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção". A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo. Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.
Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, como Jesus Cristo, tornado outra vez criança: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas". Por isso, porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver.Eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...(Rubem Alves, 71, educador, escritor